23 outubro 2011

Um olhar


Ela parou de repente, todos que estavam na plateia olharam e se perguntava se aquilo fazia parte do espetáculo. Até aquele momento, realmente não fazia. 

O teatro estava lotado, o lote de ingressos da primeira semana de apresentações do solo de piano havia esgotado em seu terceiro dia de vendas. Nem ela sabia o quanto ela era importante para a cidade onde nasceu, cresceu e descobriu o tão bonito dom. Ela olhou antes para a plateia e não achou quem procurava, no meio daquela multidão de pessoas inquietas que ela não via a tanto tempo, ele não estava lá.

Era um lindo teatro, a luz baixa e amarelada que focava no piano, aquele primeiro piano que ela tocou quando pequena, enquanto o pai ajudava a manter o teatro funcionando. O carpete vermelho parecia o mesmo que costumava correr e o palco com piso de madeira ainda era o mesmo daquelas noites, ao som de Debussy e olhares de amor. 

Ela parou a música e todos se olharam, ouvi-se o sussurrar de questionamentos pelo teatro todo, poucos sabiam o porque ela estava estática enquanto olhava para a porta de entrada. Foi quando ele sentou, na ultima fileira de cadeiras do lado oeste do teatro e ela retomou a música. Ouvia-se a euforia com que ela tocava agora, parecia querer que o mundo ouvisse, parecia que estava gritando um sentimento para que o mundo ouvisse. 

A apresentação findou-se e todos aplaudiam seu pequeno fruto, que antes era uma delicada menina e hoje tinha tornado-se uma linda mulher com um talento digno de cada aplauso. Elogios corriam o teatro e ela dirigiu-se a porta, passou ao seu lado e dirigiu o ultimo olhar a ele, parecia que podíamos ver e até mesmo ouvir, continha naquele olhar todo amor e um breve adeus. 



Nenhum comentário: